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O PEIXE VERMELHO TEM ESCAMAS PÚRPURAS - Oswaldo Romano




O PEIXE VERMELHO TEM ESCAMAS PÚRPURAS
Oswaldo Romano
            Quando pescava num grande rio, estava difícil a pega do peixe. Jogava o anzol, arremessava o mais longe que podia na forte esperança de em seguida fazer uma surpresa a minha turma. Um grande rio, um grande peixe, uma grande esperança, foi uma grande desilusão.
            Ficava só na esperança. O sorriso do arremesso era trocado pelo enrugar da boca e o balançar negativo da cabeça.
            — Tudo bem. Essa vez não deu, mas vou continuar tentando.
            Neres de neres, até foi bom. Já estava com dó do peixe. Poderia ser uma indefesa fêmea procurando comida para seus peixinhos, não é?
            Vou arremeter de novo com a possibilidade de fisgar um macho. Esse pelo menos já gozou a vida, fazendo delas gato e sapato.
            — Tenho que ser mais aplicado na pescaria e deixar esse sentimento humano para os humanos. Afinal todo mundo pesca, fazem campeonato, pesam e medem os coitados dos peixes. Garanto:  Jamais pensaram descartar uma fêmea para supostamente ela tratar dos seus filhotes...
            ...E o curioso caso do Cavalo Marinho, você sabia? Que eu saiba, não é normal encontrar cavalo marinho grande para fisgar. Deve haver porque, lulas tem pequenas, médias e gigantes! No meu sentimento seria um grave problema fisgar o Cavalo Marinho: É o macho que engravida! Nada de ovos... Dá a luz! Já nascem filhotes!
            É, é... Só que hoje não estou pegando nada! O caiçara fala mais claro: Não matei nenhum!
            Pouco mais adiante este rio desemboca no mar. Eu e mais um amigo, resolvemos, daremos a volta e chegaremos lá.
            Puxa! Veja como o mar está nervoso! Será que hoje o mar está para peixe?
            Bom, neste ponto eu vou para a direita e você para a esquerda. Troque o anzol. Coloque o de Garoupa, elas habitam esta costeira. As seis, antes do sol cair te espero aqui, tá? Boa sorte.
Entre as pedras rústicas da costeira, colocadas ao Deus dará, perdi uma linhada,  mas compensou, no final tirei uns quatro quilos. Entre eles o Vermelho brilhava ao receber os últimos raios do sol purpurado. Sua carne é saborosa.
            Seis horas! Hora da Ave Maria, música do meu celular,  já espero meu amigo... É pontual lá vem ele, carrega uma fieira de peixes!
            Chegando... Logo observou o Vermelho:
            — Ixe! Um peixe Vermelho! Não lembro ter visto outra coisa igual. Eca!
            — Aí é que você se engana... Sua beleza é esquisita, mas guarda no seu interior uma deliciosa carne. Você está convidado a ir conhecê-la amanhã em casa, na janta. Você vai? Não se obriga. Você vai se quiser...
            — Ora se vou!  Mas... Primeiro vamos dar o fora daqui. Quem come agora são os borrachudos. Não respeitam nem um cara como eu, um exímio pescador. *

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