EU
SEI TUDO - O INFELIZ SEGREDO
Oswaldo
Romano
Manoel viajava pela Ferrovia Central em direção a cidade
de Pedreiras de Pasárgada. Pedreiras, uma pequena cidade do interior das Minas
Gerais, fica distante quase um mil quilômetros da sua casa.
Escolheu essa cidade porque iria encontrar nela muito
mistério. Era exatamente o que precisava porque estava fugindo de uma verdade.
O segredo que ocultava seria a garantia
de manter seu futuro no emprego que ora lhe forçou estas férias.
Pedreiras de Pasárgada tinha fama de abrigar mulheres
bonitas e independentes, livres, tão procuradas que chegou a receber políticos,
condes, e o próprio rei. Ora, porque então não poderia também receber o Sr.
Manoel? Ele também estava livre, refugiado, frustrado, razão da sua viagem.
Fazia tudo para guardar seu tão perigoso segredo.
Manoel havia brigado, saiu do sério, agrediu sua mulher.
Ele soube que estava sendo traído, ao receber um telefonema. A pessoa
manteve-se anônima. Deixou claro que não era seu conhecido. Falava para seu
bem, a mando de um seu amigo. Assim jamais o descobriria pela voz. Falou bem
claro, minuciando detalhes, alterando o tom:
Quem lhe botava os chifres era
seu chefe.
Tinha que escolher: Qualquer abalo na sua reputação
perderia o emprego. A traição revelada, vindo à tona, perderia o emprego e a
mulher.
Não foi uma perfídia
corriqueira. Ela é uma loira linda, olhos azuis um tipo perfeito desde a
tanajura, aguça os olhares masculinos. Quando casou, se colocou no lugar dos
homens, sabia que corria esse perigo, mas não acreditou pudesse acontecer. E brincavam
com ele: “Manoel, é melhor comer caviar com os amigos, do que mortadela sozinho”.
Ele sabia do perigo, mas seu desejo falou mais alto.
Partiram para uma possível separação. Retirando-se achou
que esfriaria o acontecido e resolveria seu indigesto segredo, embora ruminando
diuturnamente. Com suas forçadas férias em Pasárgadas, encontraria novos ares,
novas mulheres, e com sorte conheceria o rei. Assim
pensando como balanço do trem sentiu-se mais leve, quase dormia quando surge o
inesperado:
Vem o guarda-vagão com alguns
jornais e passando por ele que cochilava, com sarro, arrebatado anunciou:
Eu Sei Tudo, Eu Sei Tudo, Eu
Sei Tudo, e foi passando para o fundo do vagão. Manoel despertou
completamente. Com os mais tortuosos pensamentos, tomou uma decisão. Na próxima
paradinha que a composição vinha fazendo recolhendo gente da roça, hábito
daquelas paragens, em surdina desembarcaria. Não demorou,
parou nas proximidades de uma fazenda, e conforme decisão desceu. O trem
seguiu, ele suspirou.Olhou pro campo, o que ele vê? Vacas, vacas, vacas, vacas
uma bem louraça. Sentou-se no dormente, matutou, levantou as mãos pro céu e
disse: Eu sou mesmo, um chifrudo predestinado!
(Para os nascidos agora, Eu
Sei Tudo, era o nome de uma importante revista, a mais vendida nos trens).
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