(imagem trazida do site: comediadavidacotidiana.blogspot.com)
ESQUISITICES DE OSWALDO
Christiane Lopes
Oswaldo acordou um pouco estranho naquela manhã, um sentimento kafkiano apoderava-se dele. Sentiu a barba mais espessa e a água da torneira um pouco mais quente. Vestiu-se estranhamente, parecia incomodo em si mesmo, estranhava as roupas largas, leves...Algo estava errado, não conseguia saber o quê. E se soubesse ajudaria? Não, a força do erro apoderava-se dele como um ser que vai se formando dentro do outro. Ele não sabia mais onde encontrar alívio, apenas um desejo esquisito de encaminhar-se para o parque do Ibirapuera. Tinha vontade de gritar, mas não conseguia encontrar sua própria voz. Onde estariam suas meias? Como podia um homem andar sem meias, sem sapatos e sem paletó? Não, há tantos anos ele vestia-se daquela forma, sabia dar um nó numa gravata mesmo dormindo. Ele era um ser com gravata, mas naquele dia encontrou-se sem gravata, de bermudas e chinelos de dedo indo para o Ibirapuera ao meio dia.
Como poderia sair assim? Um abismo se deu dentro dele quando uma voz que veio dele mesmo perguntou:
- Como pude viver todos esses anos preso dentro daquele terno e enfurnado dentro daquele escritório?
Ele não sabia responder, algo se rompera, uma cisão de dois mundos.
Oswaldo não sabia mais quem era e a cada passo que dava em direção ao parque – naquela manhã particularmente ensolarada – causava-lhe uma angústia maior. Aliás, não era angústia, era uma sensação esquisita: um misto de medo com felicidade.
De repente, se viu parado diante de um sorveteiro, tirou a carteira de couro que parecia estranhamente sóbria saindo do bolso daquela bermuda estampada, e pagou o picolé de limão. Lá ia Oswaldo cada vez mais incomodo na sua felicidade recente, acomodando-se pouco a pouco num novo homem que nascia dentro dele - Oswaldo era funcionário de um escritório de advocacia e não tirava férias há mais ou menos uns quinze anos. No dia seguinte saiu na manchete da Folha seção Cotidiano:
“Um homem de 45 anos foi preso nesta segunda-feira por atentado ao pudor. O sujeito estava tomando banho sem roupa no lago do parque Ibirapuera.”
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