DON
DOC, O PIANISTA SUPERSTAR 2
Mario Augusto M. Pinto
A rua e a escadaria do teatro estavam lotadas de fãs
aguardando a chegada de Don, o pianista-cantor pop star pela primeira vez no
Brasil. O barulho era enorme!
A multidão subitamente começou a agitar-se e a gritar É ele, é ele!
Era ele mesmo descendo da limusine com ares e pose de
dono e senhor absoluto de tudo e de todos ao seu redor.
Acenou com as mãos enluvadas e entrou no teatro. Foi
diretamente ao camarim, fez algumas flexões, bebeu bastante água e depois disse
a seus assistentes Vamos! E lá se foi
ele.
Ao chegar ao palco foi aplaudido estrondosamente, disse
algumas palavras que o sistema de som tornou incompreensíveis, sentou-se ao
piano, estalou os dedos das mãos sempre enluvadas, característica sua. Agitou a
cabeça desmanchando o penteado e sua bem cuidada cabeleira de ondas revoltas derramou-se
pelos ombros.
Tocou os primeiros acordes e soltou a voz para a
primeira canção. Seu corpo tremeu e sentiu
que este seria um show espetacular; assim diziam os arrepios que percorriam seu
corpo.
Nessa noite, ao tocar, entrou como que em transe e dos
aplausos jorrava tal energia e alegria que se sentiu quase levitando.
Ao terminar o show foi aplaudido de pé e teve que
tocar e cantar mais duas de suas composições. Os fãs cantavam com ele e pediam
mais.
Agradecendo os aplausos, sua figura longilínea
dobrava-se qual caniço açoitado por ventos à beira-d´água. Na verdade, era
imponente.
Atirou seu casaco para a plateia, erguia seguidamente
os braços em agradecimento. Devido a esses
movimentos, caíram suas calças mostrando uma batinha de lamê e mais: cinta liga e meias rede pretas com ligas
enfeitadas com pequenas flores e tapa sexo preto de renda e botas acima dos
joelhos A platéia ficou em silêncio por uns momentos até que alguém começou a
cantar:
Olha a cabeleira do José
Será que ele é
Será que ele é?
Será que ele é bossa nova
........................................
E o público seguiu cantando em coro. Foi o maior
vexame. Assobios, gritos, xingamentos e apupos acompanharam sua saída do palco
carregado pelos assistentes e, sem mais, foi diretamente para a limusine.
Nada disse, mas foi-se acenando seu adeus com as mãos
já sem luvas.
Mario Augusto Machado Pinto.
marioamp@terra.com.br
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