DO MEDO A FRUSTRAÇÃO
Oswaldo Romano
Há muito
guardo este segredo, mas chegou o momento de fazer não só sua revelação, como
também enfrentar suas consequências.
Estou sendo
audacioso em trazê-lo à tona, e o faço porque não podia mais suportar o peso
dessa aflitiva passagem. Quase já não dormia, a noite ficou longa e inquieta.
Quanto mais o tempo passava, mais crescia meu desespero, chegando às raias de
um visível desconforto observado por muitos. Enchia meu pensamento, eu rolava
na cama, precisava me desvencilhar daquela preocupante aflição.
É difícil sustentar
uma culpa mesmo quando ela já é por nós condenada. Faltava abrir uma válvula de
alívio, contar a verdade, expelir aquela permanente pressão. Faltava coragem.
Aconteceu
numa única noite, depois de ingerir algumas bebidas, nada justificava aquela
imbecil traição. Ela era linda, mas a que escolhi há tempos como esposa, supera
de longe pela beleza interior.
Deixei em
minha casa a pessoa a quem prometi
fidelidade. Cuidava com amor das minhas coisas, tomava conta de mim, mas nesse
dia falhou sua proteção, a proteção dos seus anjos sempre atentos, nas nuvens,
descuidados, deixaram acontecer.
Com este meu
depoimento, desfaz-se o que há tanto tempo me aprisiona.
Estava
decidido: Uma vez livre por fora, nada nem ninguém iria conseguir me aprisionar
por dentro.
Contaria todos os detalhes ao meu permanente
amor que em casa, cuida de tudo, nada me cobra e dedica tanto carinho à toda
família.
Assistia na
sala de TV a um concorrido jogo de futebol que (em vez de ponto, um pronome
relativo QUE) acontecia naquela cidade, a mesma onde eu cometi tal traição ! Meu time ganhava,
eu torcia, ria, estava solto. Coragem... É agora. Sim o momento é propício e nesse
dia até a cidade do jogo, me fazia mal. Estava decidido, chamei-a:
— Bem, amor venha aqui. Quero te
contar o que aconteceu. Sabe... foi na
cidade onde ocorre este jogo...
Lá do fundo ela respondeu:
— Agora não posso, conte outro dia. Seu
jogo não me interessa.
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