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POESIA DO ESCREVIVER - Sergio Dalla Vecchia







POESIA DO ESCREVIVER

Sergio Dalla Vecchia

 

 

Cérebros espertos

Mãos bem vividas

Corpos inerentes

Almas avançadas.

 

Juntos escrevem

Egos se alteiam

Histórias surgem

E livros se criam.

 

Escrever imagina

Escrever convence

Escrever impacta

Escrever enaltece.

 

Nesta data unidos

Feitos à comentar

Em prosa animados

Petiscos à degustar.

 

Autores em bonança

Pela Ana moldados

Seguem em pujança

No AP emoldurados!


A NEUROCIRURGIA QUE VIVI - Prof. Dr. Fernando Menezes Braga






Prof. Dr. Fernando M. Braga



Devo dizer que sinto orgulho de fazer parte desta fase literária do Fernando Braga, assim como faço parte da fase literária de todos que passaram pelo EscreViver e pelas outras oficinas que ministro ou ministrei.

Foi depois que começou a frequentar a oficina no Clube Alto dos Pinheiros que ele desabrochou na escrita, publicou alguns livros, participou de algumas antologias, descobriu-se, e chegou à sua biografia A NEUROCIRURGIGA QUE VIVI. Um importante livro que conta a história do homem, da família, do médico, da escola, dos colegas, da evolução da medicina, da evolução instrumental dos hospitais, das descobertas do mundo nessa área.

Depois do livro a Escola Paulista de Medicina presenteou-se com um documentário onde o Prof. Dr. Fernando Braga narra todo esse progresso.

Depois de aposentado, o médico, o professor, ainda deixa legado histórico para a ciência.


VIDA PARA SER VIVIDA - Oswaldo U. Lopes

 


Este texto - igualmente extraordinário - foi o romancinho de Oswaldo Lopes. Vencedor de uma série de concursos do EscreViver, eu digo que gostaria de ter oportunidade de premiar mais um em primeiro lugar.


VIDA PARA SER VIVIDA

Oswaldo U. Lopes

 

Eulália mora sozinha, não vive sozinha. Parece jogo de palavras, mas é um jogo da vida. A Fazenda São Carlos era da família fazia muito tempo e com o crescimento de Jaú, ficara às portas e depois, claro, dentro da cidade.

Filha de Arminda, neta de Antônia, bisneta de Zulmira, não importava quem casara com quem, a força vinha da linhagem feminina e passava de mãe para filha. A parca era seletiva naqueles cantos e matava os homens relativamente jovens e cultivava viúvas ainda moças e de excelente aptidão para tomar conta de terras que os mortos iam somando. Eulália De Queiroz Andrade sempre soube que o De era ligado à terra, dono dela, assim como o De francês ou o Von alemão e mesmo o Van holandês. Casara com Joaquim Antônio Soares Andrade e, bem se vê, nem precisou mexer no nome que o dele já era Andrade. Joaquim Antônio fez o que era requerido, juntou terra ao patrimônio dela e faleceu aos 57 anos.

Sua mãe Arminda de Queiroz Andrade casara com Alberto Dumont Andrade e, coincidência, também não precisara mudar de nome.

Eulália não parecia destinada ao papel matriarcal que se seguia religiosamente na família, desde sempre, bastando olhar o retrato da Baronesa Clotilde tatara qualquer coisa que muitos consideravam a matriarca mais antiga da família, a primeira que sabia onde começavam e ficavam as terras De Queiroz.

Era a mais jovem de três irmãos e a diferença de idade não era pouca. Luciano, o agrônomo, era quinze anos mais velho, Viviane, a médica, era doze anos e de resto a casa era habitada por gente séria e sisuda. Personagens austeros que pouco combinavam com sua pouca idade.

 O destino tivera que manobrar bastante para colocá-la junto de Arminda, Antônia, Zulmira e Clotilde.  Dele ninguém escapa, tendo os necessários genes e adquirindo as outras qualidades com o tempo. A tragédia ia tirar Luciano do caminho. Viviane se casou com a medicina, com a neuropediatra em particular, e não cabia nesse mundo de terras e propriedades.

Houvera loteamentos, repartições e ela herdara o núcleo principal com dez alqueires a sua volta. No campo, podia parecer pouco, dentro da cidade valia muito e era muito bem aproveitado.

A casa antiga estava corretamente conservada. Era linda, varandão, quarto de hospedes dando na varanda e capela na extremidade. E que capela. Quando era aberta para visitação da população em geral, e isso ocorria no Natal e na Páscoa, o deslumbramento era completo. Tinha o tamanho de uma pequena igreja, com altares laterais e santos barrocos de extraordinária qualidade.

Porque não vivia sozinha embora morasse sozinha? Viúva com mais de sessenta anos, rica, muito rica, tinha três filhos que a visitavam com frequência, um deles morava perto, dentro da cidade. A filha, Gabriela, e o genro, em outra fazenda que tinha até uma usina de açúcar. Economicamente não dependiam dela e como ela era moderninha se comunicavam sempre pelo Skype, WhatsApp e outros truques.

Às vezes parecia que D. Eulália não tinha passado, a não ser pela presença da Inez, uma negra altiva e de belo porte que tinha trabalhado para a mãe dela e com quem a própria trocava monossílabos que valiam por centenas de palavras.

A casa era conservada na perfeição e era deslumbrante no seu conjunto, mobília, louças, tapeçarias, quartos, janelas, cortinas tudo preso ao passado, mas conservado para o futuro.

Havia lembranças no ar, mas não havia cheiro de naftalina ou alfazema. Um sentimento de antigo que não amordaça ou afoga o presente nem enclausura o futuro. Não era fácil de compreender, tudo que tinha na casa era digno de um museu, mas ela não era um museu, havia vida, muita vida no seu interior. Era como que se as toalhas pedissem para ir à mesa e os talheres aguardassem com ansiedade seu lugar nos jantares ou banquetes.

Dito assim, o edifício pareceria um recanto delicioso, não fosse pela sala trancada. Só D. Eulália e Inez tinham a chave. No dia a dia era Inez quem cuidava dela e a mantinha arejada. Era sombria e escura, cortinas pesadas de cor carmim ocultavam janelas altas, nas paredes estantes com livros, muitos livros.

Eulália raramente entrava nela, não precisava, bastava passar pela porta para que as lembranças lhe assomassem a cabeça.

Era, como explicamos, a menor de três irmãos, raspa de tacho, temporã, sapeca, corria pela fazenda toda sem limite. Gostava muito da Inez que vez e outra a carregava no colo. Criança ainda num mundo adulto e circunspecto. Era frequente que se escondesse atrás das pesadas cortinas daquela sala que era chamada de biblioteca e onde seus pais passavam invariavelmente as tardes.

Naquela manhã entrara na biblioteca e se escondera atrás do cortinado e ficara olhando sua cunhada lendo numa bela poltrona.

Súbito, Luciano seu irmão mais velho adentrara. Descabelado, colete aberto, resfolegante aproximou-se de sua mulher dizendo apenas:

— Vagabunda!

Desferiu-lhe dois tiros e sumiu.

Eulália soube depois, quando já não era criança que sua cunhada tivera um caso com o doutor novo na cidade. Começara como cliente e evoluíra para amante. Jau não tinha mistérios, história de corno era a alegria do povoado. Se, ainda por cima, fosse de alto coturno a alegria virava festa.

Naquele tempo a honra não era lavada em cartório, mas com sangue. Morto o médico, Luciano voltara para a fazenda para terminar o serviço. Do assassino nunca mais se ouvira falar. A família tinha dinheiro suficiente para bancar um sumiço completo. Seus pais fizeram questão de manter a casa viva e arrumada como sempre, com exceção da biblioteca.

A irmã do meio, como já contamos, se formou em medicina e foi fazer residência e especialização no Canadá, nunca mais voltou. Tornou-se uma figura respeitadíssima em Vancouver no Children’s Hospital que era afiliado a Faculty of Medicine da University of British Columbia.

Com a morte dos pais Eulália assumiu os negócios, acertou a herança com a irmã e enviava a ela regularmente quantias elevadas de dinheiro.

Casara, tivera filhos, enviuvara e seguia a vida, com exceção da biblioteca trancada e da pergunta vespertina:

— Por onde andaria Luciano?

Tinha uma vaga ideia de seus pais falando em “fora do país é mais seguro”. A resposta viera de Viviane.  Figura conhecida e respeitada em Vancouver como famosa Neuropediatra, Viviane andara nos jornais por causa da Zika e da tragédia que escurecia o horizonte. Fazia anos que ela dera os primeiros alertas, mas a falta de casos autóctones no Canadá dificultava sua projeção.

Mesmo assim, fazia agora dez anos que certo John Ashtemberg, morador em Valdez no Alasca entrara em contato por causa de seu e-mail (viviane.andrade@). John Ashtemberg era o novo nome de Luciano que vivia na minúscula cidade de Valdez, casado com uma mestiça descendente de indígenas de nome Cybele, com dois filhos e vivendo da caça, pesca e comércio de peles.

        Ele aprendera que nos USA você pode facilmente sumir, criar uma pessoa, um social-security number e viver desde que não saia do país ou no máximo vá só ao Canadá.

Estava economicamente estável embora agora tivesse 75 anos, mas aceitara partilhar a enorme quantidade de dinheiro que Viviane recebia do Brasil. Encontravam-se anualmente, no verão em Valdez, quando Viviane tirava uma semana de férias. Ele lhe fizera prometer que nunca revelaria a ninguém do Brasil onde vivia e o que fazia agora. Ela cumprira a promessa. Luciano morrera aos 85 anos de idade no seu amado Alasca e lá fora cremado com o nome que assumira.

Nem a mulher nem os filhos tinham ideia da tragédia de sua juventude.

        Bem, Eulália era o esteio da família, o tronco feminino era dela, ou melhor, era ela. A saga estava garantida com Gabriela casada, quem diria, com Newton Andrade, destinado a morrer cedo, como convinha naquele mundo que girava em torno delas: Clotilde, Arminda, Antônia, Zulmira, Eulália, Gabriela.

        Viviane, agora aposentada, continuava a frequentar o Hospital e às vezes vinha ao Brasil, como Eulália que às vezes ia ao Canadá.

        Sentindo a idade e não querendo deixar sua história fora do tronco, Viviane resolveu que era melhor contar tudo e... Contou.

        Tinha De Queiroz na British Columbia, mas também em Valdez, no Alasca. Deu detalhes nomes e endereços, sentiu um enorme alivio no final.

Eulália ouviu em silêncio, percebeu a árvore crescer e encurvar-se. Sentiu uma necessidade enorme de ver esses sobrinhos, de integrá-los, embora precisasse inventar uma história totalmente louca para explicar o acontecido. Mas não se preocupou, era filha de Arminda, neta de Antônia, bisneta de Zulmira, fazer história e criar histórias era o que os De Queiroz mais haviam feito na terra.

ESCREVIVER - CONFRATERNIZAÇÃO 2021


Ana Maruggi 
Coordenadora da Oficina de textos criativos EscreViver.


Confraternização 2021


Antes de mais nada agradeço o carinho de cada um.
Agradeço o apoio de vocês durante todos esses 9 anos transcorridos do EscreViver no Clube Alto dos Pinheiros.
Agradeço a colaboração de todos nas atividades, no dia-a-dia, nos preparativos diversos de todo tempo.
Agradeço a fiel, dedicada e prazerosa companhia de vocês

Apesar da pandemia em curso, nos confraternizamos de modo a demonstrar nossa amizade e carinho para com os colegas.

Aos que não puderam comparecer, estendemos todo nosso carinho.

O evento foi organizado, não por mim, mas pelas colegas Silvia Ballarati, Maria Luiza Malina, e Antonia Marchesin Gonçalves. E para o evento dou nota dez!! E aproveito para agradecer o "trio-organização" esse empenho tão gentil e carinhoso.

Elas providenciaram tudo, tivemos até presépio e uma oração de agradecimento pela saúde e pela vida. Tivemos um bolo especial confeccionado pela Malina, delícia que não pode faltar em nossas confraternizações. Uma decoração gostosa de vivenciar. 
E, Suzana narrou seu conto sobre o casal nas falésias.
Mas além disso, o "trio-organização"  providenciou uma interessante brincadeira literária, um mosaico de textos para homenagear a Oficina e seus escritores. Eram parágrafos curtos, aleatórios,  muitos já nos livros publicados. E aqui posto os parágrafos, tão bem escolhidos,  para que adivinhássemos quem eram seus autores:


 MOSAICO DE TEXTOS:

"Hoje, será uma aula diferente. Vocês terão 1 segundo para descobrir de quem é o parágrafo que iremos ler. Vamos lá! " (1) Orientadora, Ana Maria Maruggi.

 

"Setembro de 1978. Era outono lá. As folhas amareladas formavam um tapete nas praças e jardins. Eu estava lá. Do outro lado do mundo. Beliscava-me às vezes, para me certificar daquela realidade." (2) O enredo de cada um, pag.133 - Ledice de Sá Pinheiro Pereira.

 

"Ao entornar a taça, ela virou o rosto para a janela em que Dona Amélia e Edson estavam e lhes lançou um olhar furioso, tal qual um leão, demonstrando que sabia da existência deles." (3) Papel, Caneta, Ação, pág. 31 Antonia Marchesin Gonçalves.

 

"Com este pensamento, ela desce as escadas apressada segurando as saias para não tropeçar. Precisa ser discreta e sair de casa sem ser notada." (4) Verônica Azevedo, pág. 61 - O esferógamo e outras histórias.

 

"A janela do sobrado que, era apenas uma vista para a praça, talvez pudesse representar uma saída para o mundo." (5) Antologia - O Segredo de Cada Um, pág 70, Mário Luiz Tibiriçá Ramos.

 

"Entretanto o destino é caprichoso e as coisas se resolveram de uma forma muito melhor do que qualquer resolução nossa." (6) Papel Caneta e Ação, pág. 17 Ana Maria Pinto.

 

"Quanto mais estudada tornava-se a garota menos interessada nos afazeres domésticos. Panelas a arear eram substituídas por livros emprestados da biblioteca municipal." (7) Antologia - O Segredo de Cada Um, Vera Lambiasi, pág. 145

 

"Hospedou-se na casa paroquial por insistência de Dom Carmelo. Os dias transcorreram com muito trabalho, catalogando e conferindo os arquivos." (8) Papel, Caneta e Ação, pág. 240 Silvia Helena de Ávila Ballarati.

 

"Um dia, prometi deixar esse gostoso e cansativo trabalho, teria preferido que o dia não existisse." (9) O Segredo de Cada Um, Oswaldo Romano, pág. 98

 

"O noivo, Nestor, inconformado, não entendia a razão de tamanha afronta. Tentou convencê-la a rever a decisão. Mas não adiantou, era irreversível." (10) Papel, Caneta, Ação, pág 230, Sergio Dalla Vecchia.

 

"Um tanto constrangida, comunicou aos seus pais e, ao contrário do que ela esperava, eles ficaram muito felizes. Aliás, finalmente, teriam um neto. (11)  pág. 137, Maria Amélia Favale

 

"Enquanto isso Solange teve sua criança, uma menina ruivinha como ela". (12) Papel, Caneta, Ação -  Suzana da Cunha Lima, pág. 274

 

"Acompanhou-a carinhosamente. Que força interior! Não se queixava nem reclamava. Teve uma recuperação como ele nunca vira e alta tranquila, com seu bebê intacto e com uma cara ótima." (13) Papel, Caneta, Ação - pág. 210, Oswaldo U. Lopes.

 

"Prometa-me que você cuidará de minha pequena com o mesmo amor que sinto por ela e por você. A vida me escapa e você é a única pessoa na qual confio." (14) pág.23, O Enredo de cada um, Carlos Cedano.

 

"Conversamos. Pedi, então, que transmitisse a todos um convite para um lanche às quatro horas da tarde do próximo domingo e assim ficou combinado." (15) Papel, caneta, Ação - pág. 193 - Mario Augusto Machado Pinto.

 

"Enquanto aguardava, passou a rememorar o motivo de ter feito o convite para que a grande estrela da televisão comparecesse a essa reunião." (16)...pág. 128, - Papel, caneta, ação - Luiz Guilherme Martins Sales da Cruz

 

"Laura foi ao banheiro e exultante abriu o envelope. Lá estava o convite. Deveria aparecer num determinado lugar trazendo roupa de festa e de banho para passar o fim de semana num sítio próximo." (17) ...pag.92 - Papel, caneta, ação -  Ises A. Abrahamsohn.

 

"O fato é que Ricardo adorava conversar com as mulheres do condomínio, fosse durante suas caminhadas, na piscina ou na sala de ginástica, mas raramente estava ao lado de sua companheira nessas ocasiões." (18)...pag 67 - Papel, caneta, ação - Fernando Menezes Braga.

 

"Mais uma vez vejo aquela janela abrir e fico apreciando o vulto que se movimenta atrás da cortina de renda rosada. Ah! Quanta formosura em uma só pessoa." (19)...pág.9 - Papel, caneta, ação - Adriana Silva Frosoni.

 

"Engasgando-me na saliva, não sabia nem o que dizer...(20) "Antologia - O segredo de Cada Um, pág 40, Judith Cardoso.

 

"O menino magricelo se esquiva das trombadas que a pressa de quarta-feira distribui pelas ruas do centro de São Paulo." (21)...pág.71 - Papel, caneta, ação - Gustavo Kosha.

 

"Desde criança sentia o dom de prever coisas que aconteceriam logo ou dias depois através da concentração da mente." (22) Antologia - O Segredo de Cada Um, pág. 28, José Vicente Jardim de Camargo.

 

"Ela frequentemente tinha os pensamentos longe: Será que estou me apaixonando por este rapaz?" (23) O enredo de cada um, pág. 39, Fernando Menezes Braga.

 

" A vida continuou sem altos e baixos, emaranhada por desencontros." (24)...pag.152 - Papel, caneta, ação - Maria Luiza de Camargo Malina.

 

"O dois é o único número par, que é primo. O número dois possibilita a dualidade, e a dualidade das coisas é uma noção importante na maioria das culturas." (25) -O enredo de cada um, pag.93, Jeremias Moreira.

 

"Aceitei e, junto com o casal, levantamos a taça de champanhe. Tim Tim! Um brinde à vida!"  (26) Antologia- O Segredo de Cada Um, pág.15, Fernanda Alves Torres.

 

 AS FOTOS / VÍDEOS






















E aqui um aceno para os que não estiveram conosco neste dia:






AMOR E ÓDIO - Antonia Marchesin Gonçalves (Romance - primeiro colocado)

 

O melhor romancinho 2021
Um patrocínio da DE TOMMASO

Prêmio: Uma bela mala de viagem para os vencedores.



                                AMOR E ÓDIO

 

O TERROR

                — Aljamie ealaa al’ard! Todos, no chão, no chão, todos no chão!

Ordenou rispidamente a voz masculina atrás do capuz preto, enquanto disparava tiros de metralhadora a esmo pelo saguão. Os gritos eram em árabe que muitos turistas não conseguiam entender, mas eram imediatamente orientados em inglês pelos serviçais do hotel “Lie on the floor”.

                Os passos e gestos violentos dos invasores avançaram pela recepção, chegando ao restaurante.

                Era um hotel nos Emirados Árabes, Angela estava tomando o café da manhã, quando, a entrada principal foi invadida pelo bando terrorista. Todos mascarados fortemente armados, anunciando um sequestro, ninguém poderia sair. Um tremendo alvoroço se fez, entre gritos, chiados e choros, e todos foram agrupados num canto do salão, inclusive funcionários.

                O medo a dominou, sentiu o coração palpitar, os pensamentos turvarem. A morte nunca esteve tão perto dela. Tremia, chorava baixinho. Lembrou que já sentiu ódio, desprezo, e que agora seria castigada, certamente. Na memória, toda sua vida, família e amigos, vieram num flashback confuso como prêmio antes da morte.

 

O PASSADO

 

                Angela lembrou que pouco trabalho deu à mãe, a criança feliz brincava com as panelinhas com as bonecas fingindo fazer comidinha, uma meleca de açúcar e canela. Tanto brincou com isso que ao crescer não suportava o cheiro de canela. “Todo o ambiente parece cheirar canela” – Conseguiu pensar.

       Na adolescência precisou largar os estudos, tinha que trabalhar para ajudar em casa. Tornou-se uma moça muito bonita, sendo constantemente assediada até por homens maduros, mas não tinha ela interesse em namorar, estava envolvida pelo trabalho, tanto fora como em casa.  

                Nas poucas horas de folga gostava de ler, leitura era a sua paixão. Ficava, horas na poltrona lendo quando podia, ouvindo broncas da mãe “Você perde seu tempo nessas besteiras que contém os livros”.

        Seu irmão tinha vários amigos que frequentavam a casa, ela os tratava bem, mas sem maiores interesses. Com o tempo, um deles deu de se sobressair, passou a frequentar a casa com assiduidade tentando acertar os horários em que ela estivesse. Teve início ali uma amizade. Renato era estudante de arquitetura, não era bonito, mas charmoso, se entendiam bem.

                Numa tarde os dois conversando, Renato falou que estava apaixonado e a pediu em namoro. Angela ficou surpresa. Nem passava pela cabeça dela um namoro, pediu um tempo para pensar. Tinha já dezoito anos, as poucas amigas já namoravam e encorajavam-na a aceitar, assim foi. Tiveram que esperar Renato se formar. No último ano ele já trabalhava, então deram entrada no seu primeiro apartamento e ela com seu trabalho e esmero fez todo o enxoval.

 

AMOR E ÓDIO

 

       Renato a conquistava todos os dias, mais e mais. E quando se casaram ela estava totalmente apaixonada, tendo olhos só para ele.

                Antes de casar ele a convenceu a largar o emprego, dizia que sua mulher não trabalharia fora. Ela obedeceu sem analisar consequências. Veio o primeiro filho e ela foi se tornando cada vez mais mãe e dona de casa. Já não percebia que ele não lhe dava a atenção e o carinho de antes. Apaixonada como estava, confiava em seu companheiro, “ele está trabalhando muito para nos manter”. Mimava-o. Apreendeu a cozinhar, e até curso de banquete ela fez. Recebiam amigos para jantar, e sempre lhe vinham elogios de todos. Renato tinha tudo sob controle, esposa, casa, filhos, sucesso profissional, era invejado. Certo dia Angela recebeu uma carta anônima que dizia o quanto conquistador compulsivo era seu marido. Ela se abalou. Mas pensou melhor, deu a carta como de alguém com inveja de sua felicidade.

                Passado um tempo, começou a receber telefonemas também anônimos acusando Renato de estar traindo-a com colegas de trabalho. As horas extras que fazia não eram para trabalhar e sim para sair com outras. Não teve outra opção senão perguntar ao marido, lógico que Renato negou veemente usando até o ataque como sua melhor defesa. Apaziguados os ânimos a vida logo voltou à sua rotina. Mas, agora Angela andava mais atenta, passou a observar mais o marido. Quando estavam em festas, jantares ou restaurantes, mesmo à sua frente, ele percebia que ele flertava com outras mulheres, magoando e até humilhando a esposa.

       Foi quando começou a sentir-se depressiva e desiludida cada vez mais. A grande paixão foi esvaindo-se. O amor se desconstruiu a ponto de se tornar quase ódio, que lhe corroía a alma. Muitas brigas passaram a acontecer. Angela tentava reivindicar seu respeito. Ao que ele sempre dizia que ela estava imaginando coisas, insinuando que estivesse emocionalmente abalada pelos ciúmes. Pelos filhos ela não se separou.

                Certo dia Renato passou mal, teve um derrame com sequelas graves. Angela se desdobrava vinte quatro horas para cuidar pessoalmente dele, não aceitava ajuda de enfermagem, nem dos filhos, ela era irredutível. Uma amiga psicóloga tentou que recebesse ajuda, alegando que podia ela adoecer. Mas, ela se negou.

        No entanto, logo o cenário mudou. Renato faleceu, e a transformação de Angela foi total.

                Agora Angela parecia tranquila, feliz, tinha recuperado a beleza, o brilho no olhar, uma amiga não se conteve:

— Eu tinha certeza de que você fosse afundaria até o fundo do poço com a morte dele, Angela.

E ela simplesmente olhou para a amiga e disse:

                — Não, querida, eu tive prazer em vê-lo morrer.

 

VIDA NOVA

 

                Após um mês da morte de Renato, Angela já tinha o seu futuro definido, com os seus sessenta anos, tinha certeza do que queria para o resto de sua vida. Chamou os filhos para almoço no sábado, com uma maravilhosa feijoada que fazia com perfeição, e sabia que seria um belo chamariz para ninguém faltar. Todos compareceram.

                — Convidei vocês para esse almoço com um propósito, quero comunicar que já coloquei à venda esta casa, que para minha surpresa tem vários interessados.

Nessa hora, todos começaram a falar ao mesmo tempo, “mas, a casa que o papai construiu, tão maravilhosa! ”, outros, “você vai para onde e o que vai fazer com o dinheiro? ”. “Papai sempre cuidou de tudo”...

— Sim ele sempre cuidou de tudo, mas agora quem manda na minha vida sou eu, vou comprar um apartamento pequeno, como sempre quis, não aguento mais cuidar dessa casa tão grande. Já tenho um em vista, é confortável, ele tem tudo que eu preciso.

                Completou:

— Se gostam tanto da casa, façam uma oferta entre vocês e comprem a minha parte.

       Como sabia que aconteceria, ninguém se pronunciou, não tinham cacife para manutenção de uma casa daquelas. Tomada a decisão, Angela mudou-se para o apartamento, não levou nada, fez a decoração com um bom gosto surpreendente. Depois de tudo em ordem, passou dias saindo pelo bairro se familiarizando, descobrindo uma vizinhança simpática, tendo perto um pequeno comércio, pequenos restaurantes e até boutique de roupas e calçados femininos. Numa dessas incursões achou uma academia de dança, e se matriculou no curso de dança de salão. Feliz, passou a ter aulas três vezes por semana, sempre no final da tarde. Fez novas amizades no grupo, incluindo alguns solteiros. Já nem sabia mais como era estar solteira entre solteiros. Arriscou, saiu com alguns, sem nenhum interesse. “Acabei de me libertar, vou usufruir até morrer dessa liberdade”. Após um ano de curso, deu-se conta de que aquilo já não era suficiente, sentiu necessidade de algo mais vibrante, mais desafiador. Em casa sozinha começou a se lembrar de sua vida, o quanto foi morna, sem ela ter oportunidade para tomar iniciativas de tomar, sem chance para novos rumos, sempre aceitou o que decidiram por ela, sem se questionar sobre sua própria vontade.

                Resolveu dar uma guinada, comprou passagens para viajar por seis meses. Europa ela já conhecia, a idéia era conhecer Egito, Emirados Árabes, Turquia, Líbano. Queria finalizar alugando um chalé em Lugano nos Alpes da Itália por três meses, aproveitaria para conhecer pequenas cidades em torno vivenciando com mais tranquilidade o dia a dia dos lugares. Lembrou-se das viagens que fez com o marido, todas com tours corridos, tomando ele a decisão dos países que conheceriam. Pensando bem, o erro foi meu, atinou. Passagens compradas malas feitas, comunicou aos filhos que demonstraram surpresa e preocupação, inconformados dela fazer sozinha a tal viagem. Prevenida de que isso acontecria, avisou a eles que já tinha reservas nos hotéis em todos os países por onde passaria.

       Começou por concretizar o sonho de conhecer as pirâmides, deslumbrada não só lá como também, na Turquia e Líbano. Admirou-se com os costumes tão diferentes, principalmente as mulheres cobertas de preto até os pés, só exibindo os olhos.

               

VÃO NOS MATAR!

 

     Angela sempre foi muito tranquila, mas sentiu um devastador medo invadir sua mente. Vão nos matar! Pensou. Tinha estudado um pouco sobre os povos dos países que visitaria, foi alertada sobre o perigo de um grupo terrorista. Agora estava ela diante de um violento grupo terrorista.

 Acuada junto aos outros, depois do impacto inicial, estranhamente, percebeu-se mais calma que a maioria. Alguns choravam baixinho, algumas mulheres rezavam, mas ninguém se movia. Havia medo nos olhos que rolavam quietos perto do chão. Foi quando notou um senhor em torno dos sessenta e poucos anos, bem-vestido, calmo e com um olhar perspicaz analisando a situação, sentiu confiança, não sabe porque, “ vamos sair dessa”, pensou.

                Notou que o grupo tinha um líder, era um homem alto, forte com voz grave. Ele portava granadas na cintura e tinha um cinturão de balas atravessado no peito. Gritava ordens posicionando os soldados em pontos estratégicos para manter controle total. Dois deles vigiavam os hóspedes do hotel, outros, as janelas e portas.

                Assim, tendo dominado o ambiente, o líder em inglês fluente dirigiu-se ao gerente para que entrasse em contato com as autoridades para fazer suas exigências. O pobre gerente, tremia e se esforçava para concatenar as ideias. O líder deu-lhe um celular já conectado com a polícia, autoridades, e ia ditando para que ele repetisse as regras. Apesar de atônito, o gerente executou as ordens recebidas.

                Exigiram a soltura de dez companheiros presos na semana anterior. E ameaçaram, se até o meio dia não se efetivassem as exigências, iriam iniciar a execução dos turistas. Angela viu-se chorando mais alto, e percebeu que os outros também estavam fragilizados.

       Em menos de uma hora ouviu-se muito barulho na rua.  “Deve ser a polícia se posicionando do lado de fora”. Começaram as negociações, o líder estava cada vez mais nervoso, falava aos gritos, gesticulava muito, e ia instalando nova onda de pavor aos reféns. Angela percebeu, com o pouco conhecimento do idioma árabe, que não haveria muita facilidade de atenderem as exigências dos terroristas, os presos eram considerados muito perigosos e se encontravam em outra jurisdição. A dificuldade era mais um ingrediente que poderia ser fatal.

Havia muitos gritos e tiros pelo ar.

                Nesse alvoroço, Angela percebeu que o refém, o tal homem bem-vestido, tentava, discretamente, acalmar os demais. Em determinado momento ela o vê digitando algo no celular. Angela não acreditou na coragem dele. Talvez o mais corajoso de todos entre os reféns. Ele está correndo risco por nós, pensou.

                Era hora do almoço, o líder estava pronunciadamente alterado, irritado, gritando com as autoridades no celular. Nesse instante ele examinou os reféns numa olhadela ligeira. Mandou um dos soldados levantar uma idosa senhora, provavelmente inglesa que chorava muito alto desde o primeiro instante, colocou-a na parede lateral, acionou a câmera do celular e mandou que a executassem. Angela entrou em pânico novamente, jamais imaginou assistir tal cena! Havia um sentimento de morte iminente no ar. Com o coração disparado, nauseou-se com o cheiro de pólvora e sangue. Deixaram o corpo largado no chão para que servisse de sinal do que seriam capazes. “Logo serei eu”, pensava. Lembrou da preocupação dos filhos em relação à viagem dela, e chorou mais.

                Novamente aquele senhor bem-vestido tentou acalmá-la, desta vez tinha um discreto sorriso para oferecer-lhe. Depois cochichou para se agrupassem mais perto dele, que lhe dessem cobertura. Angela tudo percebia, temia que ele fosse descoberto e fatalmente seria a nova vítima. Ele examinou o cenário com calma, parecia ter domínio da situação, voltou a digitar no celular, provavelmente dando coordenadas do ambiente dentro do hotel, suspeitou Angela.  Os reféns eram compostos por umas vinte pessoas, os casais se abraçavam buscando conforto, mas nessa hora, todos sentiam a mesma necessidade, o mesmo medo. Algumas mãos se uniram, exalando o cheiro de suor do medo que escorria pelos poros e era estampado nos rostos, inclusive no rosto dela.

                Pouco tempo depois Angela notou uma porta entreaberta e o vulto de um soldado que num crispar cruzou a luz que vinha de fora. O homem bem-vestido percebendo que ela havia notado, fez-lhe o sinal de silêncio e gesticulou para que se deitasse e cobrisse o rosto. Imediatamente, todos a imitaram. Um estrondo se ouviu, uma nuvem de fumaça rolou pelo salão, abafando o ar, entorpecendo a visão, nada se enxergava. Os soldados entraram atirando, uma verdadeira guerra, e os gritos desesperados dos reféns. Angela não soube dizer quanto tempo durou aquilo, mas tinha a certeza de que se saísse viva, jamais esqueceria.

                Quando o tiroteio silenciou havia ainda muita fumaça no ambiente, Angela sentiu-se pega pelo braço, quase desmaiada com falta de ar, sabia que estava sendo salva. La fora foi colocada numa ambulância junto com alguns, e levada para o hospital. Recuperada, de volta ao hotel, os hóspedes tinham sido transferidos para outro prédio enquanto aquele passava por reformas. Angela ainda tinha medo do que acabara de vivenciar. Lembrava com insistência de alguns momentos aterrorizadores, mas não conseguia esquecer o homem que, corajosamente, salvou a todos. Sentia necessidade de demonstrar o sentimento de agradecimento para com ele. Foi falar com o gerente do hotel, que de imediato disse-lhe ser ele um hóspede italiano chamado Armando, se encontrava no bar naquela hora. Ela não teve dúvida, procurá-lo.

 

O HOMEM BEM-VESTIDO – O HERÓI

 

                Lá estava ele, tranquilo no terraço do bar tomando vinho branco. Parecia remoçado, estava de novo bem-vestido com um blazer branco, bem alinhado. Levantou-se ao vê-la chegar, saudou-a com um beija-mão. Ela pediu desculpa pela interrupção no seu relax, e ele a convidou para que compartilhasse o vinho “é de excelente safra”, e completou “fico feliz que esteja bem”. Ficaram horas conversando, nem viram o tempo passar, notou que ele não usava aliança. Com o passar das horas, um sentimento que não conhecia a dominou, um forte batimento no peito, as pernas amolecidas.

                Percebeu-se falando demais de modo a não conseguir se controlar. O que está acontecendo comigo? Com essa idade pareço adolescente. Contou que havia alugado um chalé em Lugano, que seguiria viagem no dia seguinte. “Tomara que, com menos sustos”, ainda disse sorrindo. Lugano! Disse efusivamente, Armando. Que incrível! É minha cidade, e é onde nasci, é onde moro, posso ser seu cicerone vai ser um grande prazer.

 

LUGANO – ITÁLIA

 

                Dias depois já instalada no aconchegante chalé com vista para o lago, desfrutava com prazer do cenário. Era exatamente como imaginara, cercada de hortênsias de todas as cores, Angela estava realmente feliz. Com a simpática ajuda de Armando foi conhecendo a cidade, os pequenos vilarejos vizinhos do lado suíço, almoçando lanches deliciosos em frente ao lago. Ele era muito respeitado pelos conhecidos, o que facilitava alguns passeios, algumas reservas especiais. Tantas vezes saindo dias inteiros com Armando, Angela descobriu que ele era aposentado e ele tinha uma patente no exército italiano, o que explicava a experiência na ocasião do sequestro. Algumas descobertas a faziam vibrar, ele nunca tinha se casado, viajava muito e ainda não tinha encontrado o amor da sua vida.

                Angela já se sentia aflita pensando que logo voltaria para o Brasil, não queria deixar esse bem-estar, não queria deixar Armando. Reconheceu-se totalmente apaixonada. E, faltando uma semana para seu retorno começaram a chegar arranjos de rosas vermelhas, aveludadas, perfumadas, que fizeram da sala um grande jardim. Naquela noite, ele chegou elegantemente trajado, com champanhe nas mãos. Sustentou-a num forte abraço e beijou-a muito ardentemente. Ela correspondendo com a mesma paixão. Ele revelou estar verdadeiramente apaixonado, e pediu-a em casamento. Não saberia viver sem ela, argumentou. Depois, presenteou-a com um valioso solitário de diamante que havia pertencido à sua mãe.

                As emoções dos últimos meses foram intensas, mas essa Angela não esperava. “Ele me pediu em casamento? Era a última coisa que queria, tinha prometido que jamais tornaria se casar, tamanha decepção que já viveu, as lembranças tristes lhe vinham em blocos pesados. Enquanto era beijada, sua cabeça rodava num turbilhão de pensamentos, como num filme, as imagens, vindo numa rapidez turbulenta, sentiu-se tonta, Armando ao perceber sua surpresa e insegurança, sentou-a na poltrona, e disse que não precisava responder de imediato, que ele teria todo tempo do mundo para esperar a resposta.

                Quando ela conseguiu falar, estava emocionada, e com a voz abasbacada, pediu um tempo. Naquela noite, mais juntos do que nunca, ele a abraçou com força, como se quisesse fazê-la desistir da partida. Ela não teve um sono tranquilo, despertou várias vezes e se viu a ruminar o episódio sabendo que teria que tomar uma decisão. Ao acordar, pela manhã, ele não estava ao seu lado. Calçou os chinelos, foi até a cozinha, encontrou-o fazendo ovos mexidos. O aroma do café fresco invadiu toda a cozinha. Beijou-a com carinho e sentou-se ao seu lado.

                “Vamos comer antes que esfrie” – Disse com um sorriso encantador. Angela então pediu que ele a deixasse o dia sozinha, tinha que ter tempo para avaliar o que estava em jogo, nunca foi pessoa de se atirar às aventuras, pelo contrário, gostava de sentir os pés no chão e as mudanças seriam radicais em sua vida. Ele concordou. Após Armando ir embora, ela entrou na banheira e lá permaneceu o máximo de tempo para se equilibrar. Ponderou o passado, o presente e, já imaginava seu futuro. À noite se arrumou com esmero, pôs-se deslumbrante, queria ter certeza de estar no domínio da situação. Arrumou a mesa no terraço debaixo de um céu estrelado, certificou-se de que os perfumes das flores invadiam todo o ambiente. O cenário estava propício para o que ia fazer.

                Armando chegou impecável como sempre, com a garrafa de vinho que ela mais gostava. Havia certo temor entre ambos. Beijaram-se ardorosamente.  À mesa, queijos, pães e vinho. No coração dela uma alegria inexplicável. No dele, o medo. “Aceito o seu pedido, querido” - Disse Angela.  Ele a olhou com o maior sorriso do mundo. “Mas, com uma condição, irei para o Brasil antes, quero conversar com meus filhos, preciso do apoio deles, me sentirei mais segura para tomar esta decisão”.

Armando demonstrou toda sua felicidade enchendo-a de beijos. Fizeram amor ali mesmo com arrebatadora volúpia, tanto que ela temia que o coração não aguentasse tamanha felicidade. Ao acordarem Armando perguntou se ela queria casar em Lugano, que ele tomaria todas as providências enquanto ela estivesse no Brasil, que fazia questão de pagar todas as passagens para a família e, após a lua de mel, não via problema nenhum em morarem no Brasil, já que ele não tinha nada que o prendesse a Lugano.

               

A FAMÍLIA NO BRASIL

 

                Sua chegada foi emocionante, os filhos com faixas de boas-vindas, gritavam e aplaudiam sua chegada. Estavam todos morrendo de saudades. Foram para o apartamento, o almoço já estava pronto e todos falavam ao mesmo tempo. Após o almoço ela abriu as malas e distribuiu as lembrancinhas que fez questão de trazer. No fim da tarde Angela decidiu revelar sua decisão. Contou como foi aterrorizante o assalto, que lembrou deles no momento em que achou que morreria. Contou também como foi salva. E, como foi surpreendida com o pedido de casamento de seu salvador. A sala emudeceu. O silêncio era tanto que agredia os ouvidos. O filho mais velho tomou a dianteira, mostrou-se inconformado dela ter aceitado se casar com um estranho que conheceu há pouco tempo. Ele era contra esse enlace, tinha a certeza de que seus dois irmãos pensavam como ele.

                Calma! - Disse ela. Reforçou que esse era o seu desejo, pois encontrara o verdadeiro amor de sua vida, disse que nunca tinha sido feliz com o pai deles. Pediu que pensassem bem, pois ela nunca interferiu na escolha deles. E completou dizendo que todos estavam convidados para o casamento que seria em Lugano, com todas as despesas pagas por Armando. Pediu que pensassem melhor, pois morariam no Brasil. Disse que Armando mandou uma mensagem para que ela enviasse os dados de todos para ele autorizasse as passagens, e que havia marcado o casamento dali a dois meses. Houve certo reboliço entre os filhos, que resistiam em não aceitar seu casamento.

        No dia seguinte Angela ligou para todos, um por um, pedindo que aceitassem, que participassem daquele momento tão importante para ela.  Chegou a lembrá-los de como era infeliz com Renato, e quantas vezes eles a viram chorando por isso. Nesse dia, os filhos, reconhecendo a realidade do triste passado da mãe, e cientes de que ela era dona de sua felicidade, eles disseram que não se oporiam. Angela tinha, finalmente, o consentimento dos filhos. Todos iriam ao casamento.

                Ela então começou a correr com os preparativos, toda a atenção para seu vestido. Várias dúvidas vieram à sua mente, longo ou curto, por ser um almoço, talvez curto, que cor, não queria branco total, arranjo na cabeça, sim ou não. Parecia noiva de primeira viagem. “Nunca imaginei na minha vida que com essa idade estaria escolhendo vestido de noiva”. Ria dela mesma. Dois meses passaram rápido. Partiram todos ansiosos para conhecer o tão famoso italiano. No balcão da companhia aérea já havia uma surpresa, as passagens eram todas na primeira classe. “Ele é mais rico do que pensava” - diziam.

 

ANGELA CHEGA PARA O CASAMENTO

 

                A chegada foi recepcionada por Armando com quatro carros disponibilizados. Foram todos instalados no hotel cinco estrelas, com a mais vista incrível que podia haver. “Mais essa surpresa”, pensou Angela que não imaginava tamanha suntuosidade. Ao chegar ao seu chalé, além de decorado com muitas flores, ela sentiu-se uma criança atendida no pedido de seu maior brinquedo. Sobre a mesa havia uma caixa de presente, ela correu para abri-la, mas ele a proibiu dizendo entre riso, que era o vestido de noiva, que havia encomendado e que ele não poderia vê-lo. Surpresa ela lhe disse que tinha já o vestido, ao qual ele respondeu que era um Giorgio Armani. “O meu preferido, além de ser um grande amigo”, que ela agora usaria alta-costura. Ela não se impressionou, e até sentiu-se contrariada, pois nunca as grifes a atraíram, era a favor de simplicidade, gostava das roupas simples e confortáveis.

        E assim, a semana voou, e chegou o tão esperado dia.  

       Mas, uma coisa a estava deixando curiosa, desde que chegou tinha sempre um a dois homens parrudos em torno do casal, com tanta correria, se esqueceu de perguntar, não simpatizou com eles.

O deslumbrante vestido de Angela era o mais requintado que uma mulher poderia vestir. O casamento foi dos sonhos, ao ar livre no jardim do hotel, tudo muito bem decorado nas cores azul marinho e dourado, o padre muito simpático encantou os centos e cinquenta convidados Outra vez não era o que Angela esperava, preferia uma cerimônia mais intimista.

                O almoço foi regado à champanhe, francesa, safras especiais de vinho da toscana, caviar russo e faisão assado. Tudo era servido com abundância e todos referenciavam ao casal, em especial ao Armando que ao lhe darem os parabéns inclinavam a cabeça chamando-o de Dom Armando.

       No dia seguinte eles viajaram para a Grécia em lua de mel, os filhos ainda ficaram mais uns dias em Lugano, queriam conhecer a cidade e arredores.

      O idílio na Grécia foi com privacidade e intimidade total. Armando não cansava de beijá-la, faziam amor com intensidade e ardor de jovens apaixonados, em todo lugar, no deck da piscina, na cozinha, na sala e até no quarto. Angela sentia-se rejuvenescida.

                Após quinze dias ele avisou que precisariam voltar. “Mas tínhamos combinado que seria um mês! ”. “Sim, mas é impossível”,   foi a resposta dele. “Tenho muitos assuntos urgentes para resolver antes de irmos para o Brasil”.

        Ao chegarem foram recebidos por dois guarda-costas, carro com motorista. Feliz, Angela olhava pela janela quando percebeu que estavam se dirigindo para outro lugar, não era para o seu chalé. Questionado ele respondeu que que morariam em sua casa, não mais no chalé. Por um instante ela se indignou por não ter sido consultada. Pensou ela: “Por pouco tempo, logo vamos para o Brasil”.

 

NA CASA DE ARMANDO

 

                Conhecia a casa dele, mas não imaginava tantos empregados. Armando foi direto para o escritório e com um beijo disse: Vejo você no almoço. Ana, a governanta toda de preto e com um molho de chaves no cinto, veio ter com ela para ajudá-la. Com tantas chaves, elas chacoalhavam ao andar provocando um barulho estranho.

                Levou-a aos seus aposentos para que descansasse. Chamou uma jovem moça, apresentou-a como sua camareira pessoal. Angela viu aquilo com certa desconfiança sentiu-se intimidada com tamanha suntuosidade. Tomou um demorado banho de banheira e ainda de roupão passeou pelo quarto, espantou-se com o tamanho do closet, na realidade eram dois, um inteiro dela e outro dele.

                Escolheu um vestido simples. “Estou em casa não preciso me arrumar toda” – Pensou. Mas, ao virar-se levou um susto, Giana à sua frente lhe informava que teriam convidados para o jantar, que deveria vestir algo melhor. Contrariada Angela aceitou o conselho da camareira.  “Só me faltava essa, ter alguém escolhendo o que devo vestir! ”, resolveu não criar problema, mas negou-se a usar as joias. Usava apenas a aliança, o solitário e pequenos brincos. Ao sair do quarto olhou com mais atenção a casa, a sala, a mobília ... “Meu Deus! Nunca imaginei que me casaria de novo, ainda mais com um milionário”. Sentou-se na sala de visitas no momento em que Armando chegou e se sentou ao seu lado: “Você está linda, minha querida! Faltam-lhes joias, este é um encontro de negócios você tem que estar sempre bem adornada, no cofre tem tudo o que você precisa”.

                Quando ela ia perguntar sobre os convidados, tocou a campainha e ele se levantou. “Venha, vamos recebê-los, querida”. Era um casal e dois homens, poucos minutos depois, outro casal. A sorte é que todos falavam italiano, e ela já estava acostumada com o idioma. Todos se instalaram na segunda sala de visita perto da sala de jantar. Discretamente, os homens acabaram se reunindo num canto mais reservado, e as mulheres em outro. A conversa foi fluindo, com aperitivos servidos seguidamente. Angela manteve-se altiva deixando transparecer ter tudo sob controle. Durante o jantar a conversa diversificada deixou o ambiente mais agradável e correu tudo bem. Em seguida, Armando pediu desculpas para as senhoras presentes e levou os homens para o escritório pedindo que o garçom os servisse lá. Não foi fácil para Angela entreter as senhoras, mal às conhecia, mas desempenhou seu papel da melhor forma que pode.

                Finalmente, após três horas e meia os convidados se retiraram. O alivio dela foi grande. Foi um enorme desafio. Foram para o quarto, ela estava cansada, e ao deitar-se perguntou quem eram os convidados. E, para seu espanto ele respondeu: “São pessoas do meu interesse profissional, que você não precisa se preocupar, procure fazer o seu papel de esposa à altura, com a máxima discrição e elegância, é só o que você precisa saber”. Aquilo a magoou muito, percebeu nele uma dolorosa mudança, a prepotência ressaltada naquela fala, justo a prepotência, o que mais detestava num homem. Apesar de muito amoroso quando estavam à sós, demonstrando incansavelmente o quanto a amava, ele tinha um lado intocável que o fazia reservado o tempo todo. E, sobre as tais reuniões de negócios em casa ou fora, que ela nada sabia do que se tratava, que não podia perguntar, pois teria uma resposta grosseira. Isso começou a levantar nela uma suspeita de que haveria algo duvidoso.

                Após aquela semana ela usou outra tática, “Você já é aposentado, por que tantas reuniões de negócios? Quando poderemos voltar para o Brasil? A resposta dele a assustou: “Tão cedo não poderemos voltar, estou envolvido em altas negociações e não posso me ausentar, ficaremos aqui por enquanto”. Quieta, Angela não respondeu. Tinha decidido pesquisar na cidade sobre ele. No dia seguinte com o pretexto de que precisava de sapatos, foi à cidade fazer compras, tentou dispensar o motorista, mas Armando não deixou. Isso criaria dificuldade, ela queria liberdade para fazer perguntas, já que agora dominava melhor o idioma.

                Não teve jeito, foi com o motorista. “Como é incrível a fidelidade e lealdade dos empregados para com o Armando! ”  Era algo que parecia submissão canina. “Tenho que tomar cuidado”. Pensou.

        O centro estava cheio, havia muitos turistas movimentando as lojas. Ela entrou em várias lojas, comprou dois pares de sapatos, mas não teve nenhuma chance de fazer perguntas, todos sabiam quem era ela, era tratada com certa reverência, o que, mais uma vez a deixou surpresa. Tudo a fazia lembrar-se de um filme sobre a máfia italiana, que tinha assistido no Brasil. Isso foi deixando-a cada vez mais apreensiva. Dois meses se passaram, ela cada vez mais desconfortável com a situação. Apesar de muito carinhoso, sabia que ele enrolava sobre a volta ao Brasil. Uma noite, na cama, após fazerem o amor com muita paixão, ela contou que seus filhos pediram que ela fosse passar o Natal com eles no Brasil. Ele respondeu que estava muito cansado, que no dia seguinte conversariam. Mais uma vez Angela ficou quieta, aquilo a estava corroendo. “Estou de novo escrava de marido e não era isso que desejava para mim”.

                Os jantares de negócios aconteciam todas as semanas, e as saídas dele também. Numa viagem de três dias que ele faria, ela aproveitou para investiga-lo, decidiu descobrir no escritório algo sobre os seus negócios. Com o coração aos pulos, tentou abrir a porta. Estava trancada. “A governanta deve ter a chave”. Perguntou sobre a chave, e a reposta deixou-a intrigada, ela não tinha, só entravam lá para limpar com a presença dele. Angela não se conformava, estava decidida a descobrir com quem havia se casado. Saiu para o jardim deu a volta e alcançou a janela do escritório, mas também estava trancada. “Inferno! ” – Bradou ela.

       Apesar de tudo, a sorte parecia estar do seu lado, Armando retornou da viagem antes do esperado, e estava ao telefone no deck da piscina, quando ela, escondida pela cortina, conseguiu ouvir a conversa. Dizia ele que a encomenda estava quase pronta e iriam embarcá-la no dia seguinte. Confirmava a mercadoria, rifles, metralhadoras, munição. Angela ficou tesa. “Ele é traficante de armas, essa é a fonte de riqueza dele!”. Para ela a vida havia desmoronado.

                Antes que ele a percebesse, ela voltou para o sofá fingindo ler um livro. “Tenho que voltar para o Brasil o mais depressa possível, não saberia viver com esse tipo de homem, eu o amo, mas tenho medo dele” - Pensou.

        Numa noite tranquila, ela disse, “Já que não pode viajar por causa dos negócios, eu vou sozinha ao Brasil, quero ver meus filhos, estou morrendo de saudade deles, quero conhecer minha neta que acabou de nascer”

Ele a olhou com um olhar frio e purulento, respondeu que não a deixaria viajar sozinha, isso não seria possível, ela que esperasse quando ele pudesse. Ela não se conteve. Mostrou-se revoltada, e respondeu à altura: “Vou sim, não preciso de sua aprovação. Eu vou! ”

          Começaram a discutir, ela mantendo sua decisão, e ele alterando a voz quase aos gritos. Num gesto agressivo ele chegou a levantar a mão, mas segurou-se e, foi dormir no quarto de hóspedes. No dia seguinte após uma noite mal dormida, chamou Giana, que começou a arrumar as malas de Angela. “É o fim!” Pensava ela entre uma lágrima e outra.

                Giana tentou convencê-la a não viajar, dizia que não era bom contrariar o patrão. Mas, Angela, decidida telefonou para agência de viagem e comprou passagem só de ida para o Brasil. Almoçou sozinha, pois ele não apareceu. No final da tarde chamou o motorista que a levou para o aeroporto. Ele também tentou convencê-la a não ir, mas ela estava decidida, inconformada, sentia-se enganada, traída, “não me casei para viver com medo o pouco que me resta da vida”.

Os filhos não sabiam que ela chegaria. Ela não os avisou para não ter que dar explicações. Após doze horas de vôo chegou ao Brasil respirando o cheiro brasileiro, aliviada, sentindo o gosto da liberdade, foi direto para seu apartamento, não tinha percebido o quanto gostava dele. Tudo estava próximo, tanto conforto. Pôs as malas no quarto e ligou para os filhos. Eles ficaram surpresos. Duas horas depois chegaram todos, inclusive a nova neta. Angela sentiu-se renovada com a pequena netinha. Pediram pizza. “A pizza daqui é mais gostosa que a pizza italiana” -  disse ela sorrindo.  Ficaram horas conversando e tomando cerveja. Ela não contou a verdadeira razão da sua viagem.

                Na primeira semana não ligou para Armando e nem ele a procurou, mas sentia saudades dele, o coração apertava quando pensava nele, “Nossa, estou de verdade apaixonada, mas não sei viver com meias verdades ou desconfianças, prefiro sofrer agora e viver a velhice em paz”. Alguns dias depois, estava ela fazendo café quando ouviu a campainha. “Meus filhos, tão cedo!” – Pensou.  Mas não era. Lá estava Armando. Ela ficou sem palavras. Teve medo de jamais ter esta sensação de novo. Ele parecia sereno, entrou, pôs as malas no chão e, a agarrou em um abraço apertado, beijando-a com paixão de quase sufocá-la. Quando conseguiu respirar, atordoada e cheia de amor, vendo aquele que amava, não suportou a emoção e chorou ao mesmo tempo de alegria, saudade e medo. Conseguiu se desvencilhar dele para fechar a porta: “Você veio! ” E sentou-se no sofá ainda chorando. Ele com toda a calma, segurando suas mãos: “Não conseguia trabalhar nem dormir de tanta saudade, primeiro fiquei com raiva, por você não me obedecer. Mas, depois com a falta que você me fez, ponderei o quanto você estava certa, eu devia mesmo respeitar a sua vontade, você realmente precisa me conhecer. Te amo Angela, não consigo imaginar minha vida sem você, te peço, volte”.

                Ela respirou profundamente, contando-lhe sobre suas suspeitas, sobre o medo que sentia de que aquilo fosse mesmo verdade, que havia ouvido as negociações dele ao telefone, que teve muito medo de não poder voltar a ver sua família. Ele a ouviu, responderei tudo o que você quiser. “ Não. Não sou traficante de armas, Angela. Também não pertenço à máfia, isso jamais. Sou consultor do governo italiano, cuido da área de segurança, realizo negociações secretas para o governo. Sendo aposentado do exército, mas na ativa da segurança nacional do meu país. É por isso que devemos ser discretos, entende? ” Angela agora estava mais tranquila depois dessas explicações. Passaram o dia entre o quarto e a cozinha, um idílio total, até o cansaço tomar conta de ambos. Dormiram juntinhos, o sono dos justos. No dia seguinte no café da manhã Armando confessou que não podia morar direto no Brasil, mas vou te colocar a par de tudo. Na verdade, gostaria de propor que morássemos oito meses na Itália e os outros quatro no Brasil, o que você acha da ideia? E mais uma coisa, querida, lá na Itália, tentarei te deixar o menor tempo possível sozinha.

                Angela não conseguia usar a razão, a voz do coração estava de novo falando mais alto, e ela aceitou, certa de que não seria monótona sua vida, e com a certeza de que seria feliz.


DE TOMMASO, sempre muito interessada em acompanhar 

as atividades culturais, patrocinou a premiação para este 

romance vencedor, uma mala de viagem para a Antonia viajar, 

e aproveitar a vida.